Por que as mulheres lideram os afastamentos por transtornos mentais no trabalho

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Introdução

No Brasil de 2024, quase meio milhão de licenças médicas foram concedidas por transtornos mentais, um crescimento de 68 % em relação ao ano anterior.

 Desses casos, as mulheres foram maioria: cerca de 64 % dos afastamentos. 

Esses números não são apenas estatísticas frias, eles apontam para desigualdades de gênero, pressões sociais e falhas estruturais no ambiente de trabalho e no cuidado com a saúde mental.

Neste artigo, vamos:

  1. Apresentar os dados mais recentes sobre afastamentos por transtornos mentais no Brasil

     

  2. Analisar por que as mulheres são mais vulneráveis a esses afastamentos

     

  3. Discutir consequências para empresas, para as mulheres e para a sociedade

     

  4. Trazer recomendações práticas (para empresas, para mulheres, para políticas públicas)

     

1. Panorama dos dados: afastamentos por transtornos mentais no Brasil

Aumento expressivo nos casos

  • Em 2024, o INSS registrou 472 mil licenças médicas relacionadas a transtornos mentais.

     

  • Esse número representou um salto de 68 % em relação a 2023. 
  • Ao longo da década, têm-se observado um crescimento contínuo nas notificações de transtornos mentais associados ao trabalho.

     

Mulheres como maioria dos casos

  • Em muitos levantamentos, cerca de 64 % dos afastamentos por transtornos mentais envolvem mulheres.

     

  • Um estudo que analisou notificações entre 2013 e 2023 identificou que mulheres representaram 65,8 % dos casos de transtornos mentais relacionados ao trabalho.

     

  • Em 2021, os transtornos mentais já eram a terceira maior causa de afastamento no país.

     

  • Em pesquisas organizacionais, observa-se que as mulheres frequentemente reportam níveis mais altos de ansiedade, insônia e desgaste psicossocial.

     

Transtornos mais comuns

  • Os diagnósticos predominantes nos afastamentos são ansiedade, depressão e “episódios depressivos”. 
  • Os transtornos de humor são frequentemente identificados como causa do primeiro afastamento profissional.

     

2. Por que as mulheres são mais vulneráveis?

Não existe uma única causa. É uma teia de fatores sociais, culturais, biológicos e organizacionais que convergem para esse desequilíbrio. Aqui vão os principais:

Sobrecarga de papéis (dupla e tripla jornada)

Muitas mulheres acumulam trabalho profissional, responsabilidades domésticas e cuidado social (familiares, filhos, casa). Essa carga extra gera tensão emocional contínua.

Pressão por alta performance + discriminação de gênero

Em ambientes corporativos, mulheres frequentemente enfrentam expectativas discrepantes, micro agressões, menos flexibilidade e menor reconhecimento, o que gera desgaste mental.

Diferenças biológicas e hormonais

Questões hormonais (ciclo menstrual, menopausa, hormônios reprodutivos) podem agravar quadros de ansiedade, depressão e transtornos emocionais, exigindo maior sensibilidade nas políticas de saúde no trabalho.

Violência, insegurança e traumas

As mulheres, em geral, são mais vulneráveis a violência doméstica e institucional. Esse histórico de vulnerabilidade emocional pode interagir com o ambiente profissional e desencadear adoecimento mental.

Subnotificação, estigma e psicofobia

Mulheres compartilham mais seus sofrimentos e buscam ajuda, o que pode fazer com que seus casos apareçam mais nos registros. 

Já os homens, muitas vezes, silenciam seus transtornos por estigma. A psicofobia (“isso é frescura”, “força emocional”) ainda é um freio. 

Além disso, o próprio ambiente de trabalho pode não estar estruturado para acolher sofrimento psíquico. Faltam redes de apoio, cultura de vulnerabilidade e políticas preventivas.

3. Consequências desse desequilíbrio

Para as mulheres:

  • perda de renda, sentido de propósito e autorrealização

     

  • prejuízo de carreira (tempo desligada, gap no currículo, estigmas)

     

  • impacto emocional e relacional (autoestima, confiança, relações pessoais)

     

Para as empresas:

  • queda de produtividade

     

  • absenteísmo elevado

     

  • alto custo com substituições, treinamentos e retrabalho

     

  • desgaste da marca empregadora (em reputação e atração de talentos)

     

  • risco legal e de compliance (especialmente se saúde mental for considerada responsabilidade da empresa)

     

Para a sociedade:

  • aumento do gasto público em saúde e previdência

     

  • desperdício de potencial humano (mulheres talentosas fora do mercado)

     

  • ampliação das desigualdades de gênero e exclusão social

     

4. Caminhos de transformação (ação estratégica)

Para empresas e lideranças:

  • Adotar políticas de bem-estar mental: programas de suporte psicológico, grupos de acolhimento, pausas regenerativas.

     

  • Treinar lideranças para identificar sinais de desgaste emocional e agir com empatia.

     

  • Garantir flexibilidade real (horário, modelo híbrido, escalas) com critérios justos.

     

  • Avaliar as demandas de trabalho: cargas excessivas e prazos impossíveis são desgaste certo.

     

  • Implantar cultura de diálogo psicológico e cuidado contínuo, sem medo de vulnerabilidade.

     

  • Monitorar métricas de saúde mental nos colaboradores (sindicância de burnout, rotatividade, qualidade de clima).

     

  • Adequar condições físicas e ambientais: espaços de descanso, luz, acústica, ergonomia.

     

Para mulheres profissionais

  • Reconhecer sinais precoces de desgaste: cansaço persistente, ansiedade, distanciamento emocional.

     

  • Buscar apoio psicológico ou terapêutico antes de chegar ao colapso.

     

  • Negociar limites no trabalho e comunicar necessidades (equiparar cargas, pausas, redistribuir tarefas).

     

  • Construir rede de suporte (mentorias, grupos de mulheres, comunidades de saúde mental).

     

  • Cultivar hábitos regenerativos: sono de qualidade, exercício, lazer, práticas de respiração/meditação.

     

  • Educar-se sobre saúde mental para reduzir estigmas internos e externos.

     

Conclusão

Os números nos mostram que as mulheres estão pagando um preço alto no ambiente do trabalho quando se trata de saúde mental.
Mas não é um destino inevitável — é um chamado para repensar estruturas, modelos de gestão e a própria cultura do trabalho.

Se empresa, líder e colaboradores compreenderem juntos que não dá para priorizar só o resultado e negligenciar “o humano”, teremos um salto na qualidade de vida, na retenção de talentos e na integridade do ecossistema profissional.

Se você é mulher que já sentiu cansaço emocional, que já se culpou por “não dar conta”, saiba: não está sozinha e é hora de reconstruir caminhos.

Para mais informações me chame no whatsapp.